sexta-feira, 12 de março de 2021

BOLSONARO, LULA E DÓRIA: UMA BREVE ANÁLISE DE SEUS DISCURSOS

 

Em cada discurso pronunciado pelos políticos, é preciso identificar, separar e analisar as partes, a fim de saber quais são os objetivos que os enunciadores pretendem alcançar.

Em relação ao presidente Bolsonaro, quando ele fala em "salvar a economia, preservar grupo de risco e tocar a vida", de fato, ele tem razão. Essa parte diz como deve ser o pensar de um presidente da República. Mas não é apenas o discurso oral que precisamos contemplar, o gestual também. E, quando confrontamos o que Bolsonaro diz com que faz, não há coerência.

A começar pelo grupo de risco que, nesse momento da crise pandêmica, parece não ser mais o mesmo, a idade das pessoas mudou. A média de idade dos internados é diferente. Antes eram os idosos, mas agora são os mais jovens que precisam de cuidados médicos. Sendo assim, a maneira de o presidente tratar a pandemia, o não uso de máscara, sua participação em aglomerações de pessoas e outras atitudes não condizem com o discurso de preservação de vidas, constantemente repetido por ele. Na verdade, os discursos se conflitam.

Além disso, seu posicionamento contrário aos cuidados sanitários exigidos no combate à pandemia, deixa claro que o presidente elegeu os cuidados sanitários como estratégia de campanha política, usada pelo seu principal concorrente, até a data da última segunda feira (8), Doria. Dessa forma, essa parte do discurso do presidente Bolsonaro não é de um presidente eleito, mas de um candidato ao cargo.

Já o ex-presidente Lula, em seu discurso, abordou pontos importantes que merecem atenção de todos. Exemplo: em relação às empreiteiras, segundo Lula, "a justiça brasileira deveria ter preservado a empreiteira, enquanto o corrupto ladrão, preso". Além disso, os bens que foram roubados devem ser recuperados e devolvidos ao estado. Nesse caso, concordo com ele! Em outro ponto, Lula acenou à Globo quando se referiu à última entrevista que deu ao GloboNews. A isso, imediatamente, a emissora respondeu através do Jornal da Globo. Nesse caso, aconteceu uma aliança política. No entanto, façamos outra análise a fim de confrontar discurso com discurso:

Em outros discursos, o ex-presidente Lula não admite "um simples ladrãozinho de celular ser tratado pela polícia como se fosse um criminoso". Nesse caso, é preciso pesquisar e conferir quantas pessoas perderam a vida por causa de um simples ladrãozinho de celular. Ao que parece, o que importa ao ex-presidente é a vida do infrator, não a vida de vítima, que foi tirada. Para melhor entender o pensamento do ex-presidente Lula, precisamos considerar o quem, o espaço e o tempo.

O ex-presidente Lula, em seu discurso dirigido a seus apoiadores, na sua base eleitoral, após ter saído da prisão, defendeu a vítima da polícia, o ladrãozinho. Já em outro discurso, após a decisão do ministro Fachin, Lula defende as vítimas do judiciário. No entender do ex-presidente Lula, a vítima do ladrãozinho não é vítima, e os condenados pela justiça, assim como o ladrãozinho são as verdadeiras vítimas, que precisam de atenção. Dessa forma, compreendo que, no pensamento dele, tanto a polícia como os agentes da justiça são os vilões a serem combatidos.

Nesse momento em que, como sempre foi, a criminalidade aumenta em todo país e os criminosos tiram a vida de muitos cidadãos braseiros, o ex-presidente elegeu o coronavírus como o grande vilão a ser combatido. Além disso, ele condenou as ações de policiais que retiram de circulação muitos ladrõezinhos de celular, do judiciário brasileiro e, também, defendeu o armamento da Polícia Militar, mesmo depois de ter condenado a campanha armamento defendida por Bolsonaro em sua campanha política, nas eleições de 2018. Ao que parece, o tema armamento, promessa de campanha de Bolsonaro, passou a ser objeto de campanha de Lula sobre a argumentação de que quem deve ser armado são os policiais, os mesmos sempre foram condenados pelo ex-presidente pelas ações que praticaram, especialmente quando prendem ladrõezinhos de aparelhos de celular. Sendo assim, resta saber por qual razão Lula quer armar os policiais? Entendo que Lula acena para dois públicos: os policiais e os que defendem o armamento da Polícia Militar, nesse caso, a vítima do ladrãozinho de celular.

Na outra faixa da pista da corrida eleitoral, hoje (11), em seu discurso sobre a fase vermelha, o governador Dória apresentou as realidades sanitárias que vem enfrentando, nesse tempo de pandemia. No entanto, ele mudou a forma do discurso ao produzir um vídeo, contendo imagens cobertas por uma trilha dramática, que acena para o lado emocional de seu público alvo.

Durante o pronunciamento, ao anunciar os setores atingidos pelas novas restrições, ao chegar nos cultos religiosos, houve uma quebra de ritmo na apresentação, e o médico fez um aceno ao público religioso, sobretudo aos evangélicos.

Essa atitude evidenciou que, para o Comitê de Contingência, nesse setor da sociedade é preciso causar o menor impacto possível. Por que? Por qual razão a mesma atitude não foi explícita ao anunciar o fechamento dos depósitos de materiais de construção, e de outros segmentos como a economia, educação e serviços?

A resposta para todas as questões levantadas é simples: Acenos políticos.

Tanto Bolsonaro, como Lula e Dória estão em campanha política. E, todos, a partir do mesmo acontecimento, criam narrativas que vão favorece-los politicamente nas eleições de 2022, e seguem acenando para seus eleitores.

Dessa forma, qual será o tema que vai dominar as eleições de 2022? Para pensar na resposta, vamos retomar o que já discutimos. Para o Bolsonaro, toque a vida e salve a economia. Mas e o grupo de risco? Não importa! Basta ver como ele se comporta entre as multidões; para o ex-presidente Lula, o que importa é a vida do ladrãozinho de celular. Basta pensar que para o ex-presidente, a vida da vítima, que são muitas, não importa. Já para o governador Dória, a vida dos brasileiros é o que importa, mas desde que todos fiquem em casa, se sair às ruas, sem abrir seus comércios, sem ajudas financeiras do governo estadual, mas com distanciamento social, todos vão viver. Resta saber quem estará vivo.

Sendo assim, Bolsonaro quer o povo sem máscaras nas ruas, Lula quer o Ladrãozinho que rouba celular e as vítimas da justiça nas ruas, e Dória quer o povo sem emprego, sem dinheiro e sem ajuda financeira trancado em casa. Qual será o resultado dessa equação?

Para Bolsonaro, saia à rua sem máscara, trabalhe, salve a economia e morra; para Lula, saia de casa para trabalhar, tenha renda, compre um celular e morra. E para Doria, tenha uma empresa, uma loja, um comércio, mantenha-o com as portas fechadas, fique em casa com a família, sem dinheiro, sem ajuda e morra. Aí está o tema das eleições de 2022. Morte. Sim a morte será o tema!

Mas e nós, eleitores, o que devemos fazer?

Como eleitor de Bolsonaro, devo protestar e exigir que se posicione da seguinte forma: governe o pais; entenda que os interesses de sua família, de seus filhos não representam os interesses na nação que preside. Além disso, devo dizer ao presidente, que os problemas que os “Bolsonaros” têm com a justiça não são problemas do governo federal. Além disso, que trate a pandemia, a imprensa e a oposição, exatamente, como um presidente deve tratar. E, caso ele não consiga, apesar de ter votado nele, devo dizer-lhe que o vice-presidente, Gal. Mourão, apresenta melhores condições para essa missão.

Quanto aos eleitores de Lula, penso, devem exigir uma reforma moral no PT. Outrossim, já que acreditam e defendem a inocência do ex-presidente, como pretendem defender a cúpula petista, presa por corrupção durante o governo Lula-Dilma? O problema está, exatamente, no fato de que, ao que parece, existe uma "moral petista", conforme Lula tem indicado em seus discursos.

E quanto aos apoiadores de Doria, entendo que deveriam exigir do governador, uma explicação sobre qual e quem é povo pretende governar? Porque, ao que parece, para começar, as vidas de professores não importam tanto assim, pelo menos não constam em suas prioridades de vacinação. Soma-se a isso que com os paulistanos trancados em casa, sem auxílio digno vindo do executivo, com impostos aumentando, lojas e comércios fechados, professores não vacinados, fato que indica que não haverá quem ensine a população, quem vai sobrar?

Por fim, penso que estamos em plena campanha política; cujo tema central é a morte, basta aos eleitores escolherem a melhor forma de morrer.