Em cada discurso pronunciado pelos políticos, é preciso identificar, separar e analisar as partes, a fim de saber quais são os objetivos que os enunciadores pretendem alcançar.
Em relação ao presidente Bolsonaro, quando ele fala em
"salvar a economia, preservar grupo de risco e tocar a vida", de
fato, ele tem razão. Essa parte diz como deve ser o pensar de um presidente da
República. Mas não é apenas o discurso oral que precisamos contemplar, o
gestual também. E, quando confrontamos o que Bolsonaro diz com que faz, não há
coerência.
A começar pelo grupo de risco que, nesse momento da crise
pandêmica, parece não ser mais o mesmo, a idade das pessoas mudou. A média de
idade dos internados é diferente. Antes eram os idosos, mas agora são os mais
jovens que precisam de cuidados médicos. Sendo assim, a maneira de o presidente
tratar a pandemia, o não uso de máscara, sua participação em aglomerações de
pessoas e outras atitudes não condizem com o discurso de preservação de vidas,
constantemente repetido por ele. Na verdade, os discursos se conflitam.
Além disso, seu posicionamento contrário aos cuidados
sanitários exigidos no combate à pandemia, deixa claro que o presidente elegeu
os cuidados sanitários como estratégia de campanha política, usada pelo seu
principal concorrente, até a data da última segunda feira (8), Doria. Dessa
forma, essa parte do discurso do presidente Bolsonaro não é de um presidente
eleito, mas de um candidato ao cargo.
Já o ex-presidente Lula, em seu discurso, abordou pontos
importantes que merecem atenção de todos. Exemplo: em relação às empreiteiras,
segundo Lula, "a justiça brasileira deveria ter preservado a empreiteira,
enquanto o corrupto ladrão, preso". Além disso, os bens que foram roubados
devem ser recuperados e devolvidos ao estado. Nesse caso, concordo com ele! Em
outro ponto, Lula acenou à Globo quando se referiu à última entrevista que deu
ao GloboNews. A isso, imediatamente, a emissora respondeu através do Jornal da
Globo. Nesse caso, aconteceu uma aliança política. No entanto, façamos outra
análise a fim de confrontar discurso com discurso:
Em outros discursos, o ex-presidente Lula não admite
"um simples ladrãozinho de celular ser tratado pela polícia como se fosse
um criminoso". Nesse caso, é preciso pesquisar e conferir quantas pessoas
perderam a vida por causa de um simples ladrãozinho de celular. Ao que parece,
o que importa ao ex-presidente é a vida do infrator, não a vida de vítima, que
foi tirada. Para melhor entender o pensamento do ex-presidente Lula, precisamos
considerar o quem, o espaço e o tempo.
O ex-presidente Lula, em seu discurso dirigido a seus
apoiadores, na sua base eleitoral, após ter saído da prisão, defendeu a vítima
da polícia, o ladrãozinho. Já em outro discurso, após a decisão do ministro
Fachin, Lula defende as vítimas do judiciário. No entender do ex-presidente
Lula, a vítima do ladrãozinho não é vítima, e os condenados pela justiça, assim
como o ladrãozinho são as verdadeiras vítimas, que precisam de atenção. Dessa
forma, compreendo que, no pensamento dele, tanto a polícia como os agentes da
justiça são os vilões a serem combatidos.
Nesse momento em que, como sempre foi, a criminalidade
aumenta em todo país e os criminosos tiram a vida de muitos cidadãos braseiros,
o ex-presidente elegeu o coronavírus como o grande vilão a ser combatido. Além
disso, ele condenou as ações de policiais que retiram de circulação muitos
ladrõezinhos de celular, do judiciário brasileiro e, também, defendeu o
armamento da Polícia Militar, mesmo depois de ter condenado a campanha
armamento defendida por Bolsonaro em sua campanha política, nas eleições de
2018. Ao que parece, o tema armamento, promessa de campanha de Bolsonaro,
passou a ser objeto de campanha de Lula sobre a argumentação de que quem deve
ser armado são os policiais, os mesmos sempre foram condenados pelo
ex-presidente pelas ações que praticaram, especialmente quando prendem ladrõezinhos
de aparelhos de celular. Sendo assim, resta saber por qual razão Lula quer
armar os policiais? Entendo que Lula acena para dois públicos: os policiais e
os que defendem o armamento da Polícia Militar, nesse caso, a vítima do
ladrãozinho de celular.
Na outra faixa da pista da corrida eleitoral, hoje (11),
em seu discurso sobre a fase vermelha, o governador Dória apresentou as
realidades sanitárias que vem enfrentando, nesse tempo de pandemia. No entanto,
ele mudou a forma do discurso ao produzir um vídeo, contendo imagens cobertas
por uma trilha dramática, que acena para o lado emocional de seu público alvo.
Durante o pronunciamento, ao anunciar os setores
atingidos pelas novas restrições, ao chegar nos cultos religiosos, houve uma
quebra de ritmo na apresentação, e o médico fez um aceno ao público religioso,
sobretudo aos evangélicos.
Essa atitude evidenciou que, para o Comitê de Contingência,
nesse setor da sociedade é preciso causar o menor impacto possível. Por que?
Por qual razão a mesma atitude não foi explícita ao anunciar o fechamento dos
depósitos de materiais de construção, e de outros segmentos como a economia,
educação e serviços?
A resposta para todas as questões levantadas é simples:
Acenos políticos.
Tanto Bolsonaro, como Lula e Dória estão em campanha
política. E, todos, a partir do mesmo acontecimento, criam narrativas que vão
favorece-los politicamente nas eleições de 2022, e seguem acenando para seus
eleitores.
Dessa forma, qual será o tema que vai dominar as eleições
de 2022? Para pensar na resposta, vamos retomar o que já discutimos. Para o
Bolsonaro, toque a vida e salve a economia. Mas e o grupo de risco? Não importa!
Basta ver como ele se comporta entre as multidões; para o ex-presidente Lula, o
que importa é a vida do ladrãozinho de celular. Basta pensar que para o
ex-presidente, a vida da vítima, que são muitas, não importa. Já para o
governador Dória, a vida dos brasileiros é o que importa, mas desde que todos
fiquem em casa, se sair às ruas, sem abrir seus comércios, sem ajudas
financeiras do governo estadual, mas com distanciamento social, todos vão
viver. Resta saber quem estará vivo.
Sendo assim, Bolsonaro quer o povo sem máscaras nas ruas,
Lula quer o Ladrãozinho que rouba celular e as vítimas da justiça nas ruas, e
Dória quer o povo sem emprego, sem dinheiro e sem ajuda financeira trancado em
casa. Qual será o resultado dessa equação?
Para Bolsonaro, saia à rua sem máscara, trabalhe, salve a
economia e morra; para Lula, saia de casa para trabalhar, tenha renda, compre
um celular e morra. E para Doria, tenha uma empresa, uma loja, um comércio,
mantenha-o com as portas fechadas, fique em casa com a família, sem dinheiro,
sem ajuda e morra. Aí está o tema das eleições de 2022. Morte. Sim a morte será
o tema!
Mas e nós, eleitores, o que devemos fazer?
Como eleitor de Bolsonaro, devo protestar e exigir que se
posicione da seguinte forma: governe o pais; entenda que os interesses de sua
família, de seus filhos não representam os interesses na nação que preside.
Além disso, devo dizer ao presidente, que os problemas que os “Bolsonaros” têm
com a justiça não são problemas do governo federal. Além disso, que trate a
pandemia, a imprensa e a oposição, exatamente, como um presidente deve tratar.
E, caso ele não consiga, apesar de ter votado nele, devo dizer-lhe que o
vice-presidente, Gal. Mourão, apresenta melhores condições para essa missão.
Quanto aos eleitores de Lula, penso, devem exigir uma
reforma moral no PT. Outrossim, já que acreditam e defendem a inocência do
ex-presidente, como pretendem defender a cúpula petista, presa por corrupção
durante o governo Lula-Dilma? O problema está, exatamente, no fato de que, ao
que parece, existe uma "moral petista", conforme Lula tem indicado em
seus discursos.
E quanto aos apoiadores de Doria, entendo que deveriam
exigir do governador, uma explicação sobre qual e quem é povo pretende
governar? Porque, ao que parece, para começar, as vidas de professores não
importam tanto assim, pelo menos não constam em suas prioridades de vacinação. Soma-se
a isso que com os paulistanos trancados em casa, sem auxílio digno vindo do
executivo, com impostos aumentando, lojas e comércios fechados, professores não
vacinados, fato que indica que não haverá quem ensine a população, quem vai sobrar?
Por fim, penso que estamos em plena campanha política;
cujo tema central é a morte, basta aos eleitores escolherem a melhor forma de
morrer.
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