Os
capítulos 20 e 21 do evangelho de João chamam atenção para alguns assuntos que
merecem nossa atenção. Eles sugerem que o escritor se preocupou em mostrar como
o Cristo queria trabalhar a particularidade de cada pessoa envolvida nas cenas.
Vejamos:
No
capítulo 20, o apóstolo descreveu a ida das mulheres ao tumulo, a pedra
removida, o tumulo vazio, os anjos dentro do tumulo, os lençóis e as faixas
deixadas por Cristo no local onde o deitaram, o dialogo delas com Jesus e a
entrega da notícia da ressureição a seus seguidores, como ele ordenara; narra,
também, a chegada dos dois discípulos ao local do sepultamento, a entrada deles
no sepulcro, a reunião deles na casa, às
portas fechadas, a segunda reunião, os dois aparecimentos do Messias entre eles,
as saudações de paz, o envio do Espírito Santo e a constatação feita por Tomé. Apesar
de que o apóstolo não se descreve como alguém que possuía percepção aguçada, ele
conseguiu imprimi-la no texto.
Já
no capítulo 21, João descreveu os discípulos na praia, a repentina ida à
pescaria e o insucesso da empreitada; escreveu que Cristo deu ordem para que
lançassem as redes à direta do barco e que a pesca foi um sucesso. Relatou,
também, que os discípulos reconheceram o salvador apenas naquele momento, que
Pedro pulou ao mar por estar sem roupas e a chegada do barco cheio de peixes, à
praia; registrou, ainda, a fogueira acesa assando um peixe, a solicitação que
Cristo fez por um pescado, o convite feito aos discípulos para comerem o assado;
além da chamada específica que o salvador fez a Pedro, para apascentar ovelhas
e cordeiros.
Esses
capítulos sugerem o interesse de João em relatar as individualidades dos
discípulos, na percepção das coisas.
Em
primeiro lugar, João não viu as coisas que Pedro viu quando chegaram ao túmulo.
Parece que quem mostrou mais objetos para o discípulo amado foi o apóstolo
Pedro. Apesar disso, apenas João creu.
Apesar
deles possuírem experiências profissionais como pescadores, pois era o que faziam
antes da chamada divina, dá-se a impressão, de que, liderados por Pedro, repentinamente,
os apóstolos resolveram pescar; mesmo que haviam deixado de executar a
atividade enquanto seguiam o Cristo. O resultado dessa pescaria foi o fracasso,
não pescaram nada! (João se descreve na cena como filho de Zebedeu, mas Pedro,
que não creu, lidera o trabalho)
Além
disso, o texto descreve que o salvador foi até eles, em alto mar, e ordenou que
lançassem as redes à direita do barco, assim fizeram e pegaram 153 grandes
peixes. Tal fato sugere que eles estiveram sem direção até o momento em que se
encontraram com Jesus.
Outro
ponto dentro dessa narrativa, é que a forma descrita por João sugere que o próprio
salvador preparou um peixe, na brasa, para os discípulos comerem, quando
retornaram à praia. Mesmo quando as coisas realizadas sem programação, dão erradas
e nos rendem perda de tempo, o Senhor, sem o nosso pedido, se oferece para consertar.
Por
fim, Jesus perguntou a Pedro, por três vezes, se ele o amava. Fato que no texto
hebraico e latim, sugere que o discípulo ficou triste pelo quê da pergunta e
não pela terceira vez que perguntou.
Nas
duas traduções acima citadas, Cristo perguntou por duas vezes se Pedro o amava,
mas na terceira, se era amigo. Então, após o último questionamento, Pedro ficou
triste. No entanto, será que a tristeza foi motivada por que o salvador desceu
o nível da pergunta, ou seja, de amor que dá a vida por alguém (diligis) por
amor de amizade? Ou o discípulo sentiu-se frustrado por não ter correspondido a
expectativa que ele mesmo apresentou, quando disse ao Senhor, “ darei a vida
por ti”? Uma coisa é perguntar se você me ama, outra, se é meu amigo.